quinta-feira, 11 de agosto de 2011

I Love You Ferrão


Torcedores do Ferroviário Atlético Clube são personagens de documentário de aluna da Vila das Artes
“Um documentário sobre torcedores, resistência, lealdade e amor incondicional por um time de futebol”. Assim Denise Pereira, aluna do Curso de Realização em Audiovisual da Escola Pública de Audiovisual da Vila das Artes, define seu curta I Love You Ferrão. O projeto teve início neste ano e busca conhecer e preservar a história do Ferroviário Atlético Clube, um dos times mais queridos pelos torcedores cearenses. E são justamente esses torcedores que se colocam frente às câmeras, contando histórias e revelando seus afetos em relação ao clube.
Denise entrevistou o fundador do Ferroviário, Valdemar Caracas


Equipe do filme com Mateus (de camisa do time), torcedor do FAC de 16 anos

Em entrevista via e-mail, Denise nos contou como a paixão pelo Ferroviário a levou à realização do documentário e como, na posição de diretora, ela lida com esse afeto. O uso, no filme, de imagens de arquivos pessoais dos torcedores, produzidas por celulares, câmeras digitais e outros dispositivos portáteis, e a construção de uma linguagem documental contemporânea também são pontos abordados na entrevista, que você confere abaixo, na íntegra.
Como surgiu a idéia de realizar um filme sobre o Ferroviário?
Eu sou torcedora do Ferroviário desde criança. Meu avô escutava os jogos pelo radinho de pilha comigo, ele também era torcedor do Ferrão e essa foi uma grande herança que ele deixou para mim.  A minha vida inteira, escutei histórias sobre o time e sobre seus torcedores. Inclusive, depois que meu avô faleceu, meu pai me levava aos jogos do ferroviário, mesmo ele torcendo por outro time. 

Atualmente sou aluna do curso de realização em audiovisual da Vila das Artes e, durante as aulas, a cada vídeo produzido durante nossos exercícios nos ateliês, sempre surgia a vontade de dirigir um documentário em que eu pudesse me enxergar nele, propor algo relevante, e ao mesmo tempo com uma história pela qual eu fosse apaixonada.  Foi durante as aulas do ciclo de “Imagem e alteridade” que a primeira idéia que tive foi registrar o amor incondicional, a lealdade e a perseverança da torcida do Ferroviário Atlético Clube. Como eu já tinha um material sobre o clube, dei continuidade à pesquisa e, com o apoio de outros alunos da escola de audiovisual, do NPD (Núcleo de Produção Digital da Vila das Artes), e apoio da TV Artilheiro/Maia’studio, foi possível começar a realização do doc. 

Por que o enfoque nos torcedores?
A torcida do FAC é especial. Para começar, todo torcedor do Ferroviário tem uma grande história que explica todo o carinho e lealdade que sentem pelo time. Eles vibram, gritam, sempre esperam que a qualquer momento vá acontecer gol da vitória. Mesmo quando o Ferroviário não está jogando, eles dão um jeito de relembrar os tempos áureos, enfrentam de cabeça erguida as críticas e piadas sobre as derrotas e sobre o tamanho da torcida com um humor bem particular.  E, ao contrário do que se pensa, a torcida só cresce. Dentro de uma faixa etária diversa, eles perduram e passam, de geração em geração, o amor pelo tubarão da Barra. Acredito que o foco no torcedor vai dar a possibilidade de trabalhar o futebol como um mediador de relações afetivas, explorando a subjetividade, mostrando o amor pelo time como um elo que toca cada um de forma peculiar, que ultrapassa gerações. A torcida coral possui um amor generoso, perseverante e muitas vezes paciente, é realmente uma “torcida diferenciada”.

E a reação dos torcedores ao saberem da realização do filme, como está sendo?
Os torcedores receberam muito bem a notícia, e eu estou tendo a possibilidade de interagir com eles através de mídias sociais (Orkut, facebook, twitter, email), o que pode enriquecer consideravelmente o documentário. Eles indicam outros torcedores emblemáticos, contam histórias curiosas, sugerem idéias, narram suas experiências pessoais com relação ao Ferroviário e, de certa forma, acompanham o processo de realização do projeto. Engraçado que muita gente ainda não acredita que está sendo produzido um documentário sobre a torcida do Ferroviário.

Como você analisa o potencial do documentário de registrar e guardar memórias de pessoas, lugares, times...?
O documentário tem essa característica que considero fantástica de registrar a vida, o cotidiano, os costumes, o velho e o novo, as pessoas, suas histórias e memórias, sejam elas fantasiosas ou não. Por mais que você planeje ou direcione o que deseja captar, sempre deve haver uma certa flexibilidade, pois não se trata de seguir um roteiro bem definido, e, sim, se deixar levar sem medo de ousar, pelo acaso e pelo imprevisível que muitas vezes vem acompanhado de momentos únicos e geniais na hora da realização de um projeto. É preciso ter o “feeling” para olhar ao redor e perceber. 

Nesse sentido, o “I love you Ferrão” irá  retomar e registrar através da memória e histórias de seus torcedores também a história do Ferroviário Atlético clube, um dos clubes de maior expressão esportiva de raízes operárias do Brasil, exemplo de democratização e popularização do futebol no Ceará. O time foi fundado por operários da antiga RVC (Rede de Viação Cearense), e seu fundador, Valdemar Caracas (foto), de 103 anos, também participará deste documentário na figura de ilustre torcedor.  Esse registro histórico e cultural será permeado pela relação entre os torcedores e seu time, relação mediada pelo afeto, onde estaremos resgatando memórias, narrando histórias, mostrando o amor e resistência da torcida, e, sobretudo, preservando e registrando a história e trajetória do Ferroviário Atlético Clube.  

A utilização de imagens produzidas por dispositivos portáteis é uma forma de inserir no “I love you Ferrão” uma estética e uma linguagem documental mais contemporânea?  
Sim. Fazer uso de imagens de arquivo da torcida, captadas a partir de dispositivos portáteis de diversas naturezas, irá direcionar o olhar do espectador para esse mundo particular da torcida.  Iremos usar vídeos de aparelhos que fazem parte da rotina das pessoas, aparelhos que possibilitam que todos sejam, de certa forma, realizadores audiovisuais.  A idéia é que a linguagem do documentário possibilite mesclar as imagens observacionais acerca dos personagens (rotina, seus depoimentos e objetos emblemáticos) com imagens de arquivo pessoal (em câmera digital, celular, ipad...) produzidas a partir do olhar subjetivo do torcedor em momentos anteriores (registros da torcida organizada, dos jogos, do estádio).  A proposta de trabalhar com uma linguagem audiovisual que foca a interação entre o meu olhar e o olhar do outro, permite a construção de um olhar múltiplo que será reforçado imageticamente pelo jogo de diferentes texturas presentes na fotografia.

Você é torcedora do Ferroviário. Como você lida com o seu próprio afeto na realização do filme? É algo que ficará explícito no resultado final?
Nesse caso, sou movida pelo afeto, e, de certa forma, é esse afeto que tento passar para o resto da equipe e, inevitavelmente, vai acabar aparecendo no resultado final do documentário. Reconheço que existem ocasiões em que preciso me deslocar da posição de torcedora para observar o processo de fora como realizadora, até mesmo para que o projeto possa fluir em alguns momentos. Mas o fato é que não tem como não se emocionar com a história dos personagens, são todos muito carismáticos, uma hora ou outra a realizadora dá espaço à torcedora apaixonada. Também conta muito o fato de ter uma ótima equipe envolvida no “I love you Ferrão”, quase todos são alunos da escola de audiovisual da Vila das Artes. A equipe é empenhada, competente, acredita no projeto e, apesar de não ser composta por torcedores do Ferroviário, são todos simpatizantes. É aquela velha história de que o Ferroviário é um time querido por todos. 

Como você pretende levar o filme aos torcedores do Ferroviário e à população em geral?
A expectativa é que o “I love you Ferrão” esteja pronto até dezembro de 2011 ou começo de 2012. Antes disso, iremos fazer dar um “teaser” do filme através da apresentação de um trailer na inauguração da TV Artilheiro, ainda sem data prevista.  Além de mandar para festivais de cinema e vídeo, quando o documentário estiver finalizado veremos a possibilidade de fazer uma exibição em algum espaço do estádio Elzir Cabral para os torcedores e público em geral. Também faremos uma outra exibição, desta vez na estação ferroviária Professor João Felipe,  para os aposentados da AFAC (Associação dos Ferroviários Aposentados do Ceará), boa parte deles torcedores do Ferroviário.


Participe!
Informações sobre torcedores emblemáticos, boas histórias, vídeos, fotografias ou qualquer outro material interessante para o documentário podem ser enviados para o e-mail filme@ferroviario.com.br.

3 comentários:

  1. Denise, tu é muito chic!!! Parabéns!

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  2. Parabéns pela iniciativa.
    Me coloco a disposição, juntamente com todo o grupo de atletas do Ferroviário, para contribuir, da forma que você achar conveniente, com seu projeto.
    Um abraço!

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  3. eu Fernando Pimentel de Andrade gostaria de relatar a experiencia de ter sido treinador do meu time. fernando.pimentel@dnocs.gov.br

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